quinta-feira, 31 de julho de 2008

Certezas sentidas

Estão no apartamento. É de noite. Ele voltou. Ela está deitada, não dorme. Olham um para o outro sem falarem. Ele senta-se, não se aproxima dela.
Chora.
Ela levanta-se, vai ter com ele, despe-o, arrasta-o para junto de si. Acaricia-o, beija-o, fala-lhe. Ele chora de olhos fechados, sozinho.
Na rua o céu ilumina-se, a noite aproxima-se do dia.
Antes de ti não sabia nada do sofrimento… pensava que sabia mas não sabia nada… nada…
Ele chora muito suavemente sem querer. Ao mesmo tempo verbaliza e expele a revolta que sente, com um imenso amor. “Eu devia ter desconfiado…
A ela agrada-lhe vê-lo assim. Desprotegido de si mesmo. Ali dentro, entre aquelas quatro paredes, ela protege-o. Arrasta-o para a cama, ele não sabe nada, não diz nada, faz o que ela quer. Isso agrada-lhe a ela. Ela obriga-o a deitar-se ao lado dela. Desliza para debaixo do corpo dele, cobre-se com o corpo dele. Fica ali, imóvel, feliz.
Já não sou capaz de te possuir. Pensava que ainda podia. Já não posso mais. Estou morto. Sinto-me desesperado. Talvez nunca mais consiga fazer amor. Nunca mais.
Ela olha para ele de muito perto. Deseja-o com uma grande intensidade. Sorri-lhe: “Querias isso, não voltar a fazer amor?
Neste momento sim, queria… para preservar todo o amor por ti mesmo depois de partires para sempre…
Ela segura-lhe no rosto. Aperta-o entre as mãos. Ele chora. Esse rosto por vezes estremece, os olhos fecham-se e a boca crispa-se. Ele não olha para ela. Ela diz-lhe, suavemente: “Esqueceste-te de mim.
É o meu corpo, já não quer aquela que vai partir…
Ele afasta-se. Ela chama-o. Pousa a boca na boca dele. Sussurra-lhe o seu amor por ele.
Afastam-se um do outro. Olham-se.
Ele diz: “Não me vai acontecer mais nada na vida além deste amor por ti.