Abismo

Levanto-me cedo para expulsar os demónios.
Em vez de paz, tenho gritado ao longo de quilómetros a revolta que sinto.
Estou cansada e esta viagem parece-me interminável.
Não procuro ajuda.
Lutar é algo que já não me é familiar...

Sonho

No meu sonho roguei-te para ficares.
Os teus olhos dançavam, o teu sorriso abraçou-me.
Imploro para te trazerem de volta
As tuas palavras “tu sabes” ecoaram sempre que pedi que ficasses.
“Tu sabes” significava “não posso ficar”.
Esforcei-me por manter o teu sorriso, na minha mão o teu cheiro, o teu toque.
Comigo e em mim serás eterno, viverás enquanto eu existir...

Envelhecida

Tenho trinta e alguns anos mas sinto o fardo de alguém de cem anos. A minha alma está velha.
Corro de um lado para o outro freneticamente porque a alternativa é tão tentadora.
Receio a indulgência de ficar na minha cama, o nosso ninho...

Eras

Escrevo e a minha busca por segurança é infrutífera.
Por todo o lado para onde olho vejo outros a chorar por ti.
Eras o Sol, a minha alegria o teu sorriso era a minha esperança.
Não sei como viver sem ti...

Angústia

Não tenho fuga possível.
O coração grita de agonia.
Não há remissão, nada me pode valer.
Não há bálsamo para as feridas porque elas são tão profundas...

Lágrimas

Estou a afogar-me nas minhas lágrimas.
Arrasto-me penosamente por entre a névoa dos dias com medo da noite.
Sou prisioneira dos meus pesadelos e das trevas.
O crepúsculo é o lembrete diário de que o pesadelo está vivo e bem vivo...

Primeiro passo

Coloquei-me em frente à sua campa, pela primeira vez. É apenas um monte de terra, sem lápide, sem uma pequena mensagem de despedida, nada...
Ajoelhei-me e não pude evitar as lágrimas que me provocavam convulsões no abdómen e no peito. Arrepios de emoção invadiam o meu corpo, havia perdido o controlo da situação. As lágrimas não paravam de brotar de dentro da minha alma.

Tenho saudades tuas... Tem sido tão difícil sem ti... Não pude ajudar-te naquele dia, a culpa foi minha...
Era eu quem devia estar no teu lugar...

Depois do antes

Há momentos, pequenos instantes que marcam toda uma vida. Existiu esse ápice de tempo. Sonhei-o. Vivi-o. Senti-o.
Por vezes questiono-me. Talvez nem tenha existido, talvez o tenha sonhado, apenas.
Não. Existiu sim. Foi a mudança. A transição do nada para o alguma coisa. Se bem que o nada tenha continuado a existir para lá desse instante. Sim, mas um nada diferente. Um nada de ausência e não um nada de acomodação... aquele que preencheu os meus dias antes daquele momento...