quarta-feira, 13 de maio de 2009

existência artificial

Ainda sofria muito, é certo. Porém o seu sofrimento era outro: sentia por si uma grande compaixão, misturada de muita ternura; tinha uma pena, uma pena infinita de si mesma. Chorava por si, como se chorasse pela infelicidade doutra pessoa, duma pessoa muito querida. Instintivamente, recordava a sua infância, enternecia-se com ela; recordava a sua vida inteira, as suas alegrias, os seus dissabores, os amigos desaparecidos - e por tudo isso é que ela chorava.
O coração partia-se-lhe num confrangimento sem fim, mas no fundo esta dor consolava-a. Era o bálsamo suave que pouco a pouco, pouco a pouco, a curaria docemente. E esse choro nem mesmo a enfraquecia. Pelo contrário: revigorava-a. Há angústias que avigoram… A sua dor suavizada, era-lhe até proveitosa… Porém, uma existência artificial, talvez, a que sem dúvida não poderia resistir por muito tempo… e assim sucedeu, em breve terminou…