terça-feira, 30 de setembro de 2008

Por enquanto...

Vai, podes ir! Vai sem pressa, devagar... não hesites, nem olhes para trás! Não precisas dizer-me que chegou a hora, não quero que desenhes um fim... eu já entendi.
Este meu jeito de alma perdida, de olhar vago e sorriso sereno... este meu jeito de te amar, te querer e desejar... tão ao meu jeito... vão ficar aqui, sempre aqui... se sentires a minha ausência, grita alto, talvez te escute... se te sentires sozinho no seio do mundo, se as lágrimas teimarem em inundar os teus olhos... chora baixinho e deseja-me... talvez ainda eu sinta quando o teu coração pedir o meu carinho...
Enquanto isso, observo-te de longe, de perto, de dentro, de lado...
Vai, caminha... não tenhas medo de deixar para trás o certo, porque posso ser o errado também...
Vá, segue em frente, traça objectivos, vai em busca de novas descobertas, vive os sonhos que apenas sonhaste... porque a única coisa que desejo dentro do peito, é ver-te feliz...
Quando o teu coração sentir saudade, quando o teu corpo criar coragem... talvez eu ainda esteja aqui, talvez ainda esteja à tua espera... ou não...
Mas, a vida é um eterno talvez... Talvez agora não seja a hora, ou talvez seja... nós nunca vamos ficar a saber, se foi no tempo certo que tudo aconteceu... ou se, na verdade, nada aconteceu porque não houve um tempo para acontecer...
O teu cheiro ainda está na minha pele, o meu corpo ainda pulsa sentindo-te em mim, a minha voz ainda sussurra achando-te, ainda, junto a mim...
Os nossos abraços eram intensos... o teu corpo completava os espaços vazios existentes no meu... achámo-nos um no outro... enganámo-nos um ao outro... Cruzaram-se os nossos caminhos e perderam-se os nossos caminhos...
O abraço do outro nunca vai ser melhor do que o teu, assim como o beijo da outra nunca melhor que o meu... O perfume do outro nunca vai ser o teu, nem o desejo da outra nunca vai ser o meu... O meu desejo é único e o teu beijo, o melhor...
Vai, desenha a tua história longe da minha, com páginas novas, com outro alguém...
No meio da noite, olha para o lado e tenta encontrar-me... não fiques triste se eu já tiver ido embora... pode ser que um dia eu volte.
No fundo, o que desejo agora é ser feliz, não me arrependo de me ter feito tua... porque, hoje, tenho uma história para contar... uma história que não ficará no passado, será sempre presente para mim... uma história que me ensinou e ensina cada vez que a sinto em mim, que o amor é superior a tudo e amar, o meu destino...
Por enquanto ninguém me faz rir, sorrir, chorar ou sofrer... por enquanto beijar outra boca para te esquecer só me faria lembrar ainda mais de ti...
Por enquanto...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ele (s)... "Passado e/ou Presente"

O mundo estava parado. Amortecido. A noite ia a meio e tudo repousava. Menos eu. Não conseguia dormir. Não conseguia dormir há vários dias. Desde que tinha ido tomar uma bebida com ele. Desde que tinha esbarrado nele, para ser sincera. Ou já seria desde antes disso? Será que eu já não tinha dormido devidamente desde que ele tinha morrido? Se tinha, não me lembrava.
Nos últimos tempos, o problema tinha passado de mau a crónico. Demorava horas a adormecer e, depois, passada cerca de uma hora, voltava a acordar, ficava deitada na quietude da noite, a olhar para o tecto branco-pérola, tentando separar os pensamentos dos sentimentos. Tentando decifrar o que estava a pensar e não a sentir, a sentir e não a pensar. Tentando perceber se o amava ou não.
A sua respiração suave ao meu lado imiscuiu-se nos meus pensamentos. Era o facto de ele estar ali que me dificultava o raciocínio. Ou respirava ou mexia-se na cama, zombando involuntariamente de mim com o seu sono imperturbado. Se ele não estivesse ali, se eu não sentisse inveja da sua capacidade de dormir, talvez não sentisse toda aquela má-vontade em relação a ele. Talvez sim, mas talvez não. Ultimamente, percorríamos um caminho tortuoso. Nada era dito, jazendo sob a superfície de cada conversa, olhar e toque. Nem tudo estava bem connosco. E isso devia-se ao facto de nenhum de nós saber qual era a sua situação junto do outro. Eu sabia que ele desconfiava dos meus sentimentos pelo outro ausente e eu tinha igual desconfiança em relação aos seus sentimentos por mim.
Para mim, as coisas tinham mudado desde que eu disse «Eu amo-te» e ele esperou uma semana para me dizer o mesmo. Eu tinha-o dito porque era o que ele precisa de ouvir na altura, mas tinha-o dito. Em primeiro lugar. E se o disse é porque o sentia. Tinha-me tornado vulnerável, tinha-me aberto e ele não conseguiu sequer pronunciar duas palavras. Duas palavras - «eu também» - bastavam para me mostrar que eu tinha alguma importância para ele. E ele não conseguiu fazê-lo. E isso fez-me duvidar de tudo o que eu pensava que ele sentia por mim.
Os meus olhos cansados fixavam-se no tecto enquanto eu estava deitada de costas, estendida, com os braços pesados, as pernas pesadas, o tronco pesado. Estava a tentar abandonar o meu corpo. A tentar afastar-me daquela realidade, a tentar flutuar para longe. Teria sido assim que ele se tinha sentido quando morreu? Teria sentido que estava a ser retirado do seu corpo, molécula a molécula? Ou teria sido rápido, não se apercebendo de que tinha partido? Ou, no instante antes de acontecer, teria ele sabido que, no momento seguinte, já não existiria?
Ele emitiu um som com a sua respiração e virou-se na cama, empurrando-me suavemente ao mexer-se. Os seus braços alcançaram-me e puxaram-me na direcção dele. Eu sustive a respiração, esperando que ele não acordasse. Poderia querer fazer amor se isso acontecesse e, naquele momento, não me ocorria nada pior. Eu não queria estar no meu corpo e muito menos que outra pessoa estivesse nele. Não queria que ele me tocasse. Não queria que ninguém me tocasse, mas, sobretudo, ele.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Faltas-me tu...

Mais um dia. Mais um dia e nada aconteceu.
Ou talvez, o que desejo que aconteça, não acontece!
Estou cansada!
Não, não estou cansada... estou exausta!
Exausta de quê, afinal?
De tudo que maquinalmente faço e de nada, do nada que não existe mas, que me cansa mais do que o que tenho e faço.
Não quero, não me apetece fazer nada.
Que mais há, que não tenha feito, ainda?
Nada! Já fiz tudo e concluo que nada fiz!
Que dia!
Que momentos!
Que horas!
Que minutos infinitos de desespero, nem sei porquê!
Apetece-me escrever. Mas escrever o quê?
Já disse tudo e tudo de tantas formas, que já nem sei de que falo!
Apetece-me perder a compostura. Rebolar no chão, fazer uma birra, gritar, espernear, dizer palavrões!
Já dancei, já saltei à corda, já corri, já andei pela rua sem destino, já chorei até!
Mas, nada me arrancou do peito este desalento, este sentir que me sufoca!
Estou presa. Sinto-me presa dentro de mim mesma.
Apetece-me querer!
Querer, o quê?
Que me falta, afinal?
Que me falta para preencher este buraco que tenho no meu peito, este vazio tão imenso?

Faltas-me tu!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

"agoras"

Anoiteceu. Mais um dia e, mais uma vez, anoiteceu. A escuridão preencheu o vazio do quarto. Silêncio. Silêncio comprido. Aquela coisa comprida, irremediável. O silêncio do agora é tarde. Do agora é nunca. Do nunca que é nunca mais.
Não sei porquê, mas hoje o meu coração insiste em estar algures, bem longe de mim. Vagueia por aí, solto das amarras da minha consciência, da minha razão.
Por mais que me esforce, por mais que tente, por mais que queira, é muito mais forte que eu. Deixo-o ir. Quem sabe, um dia, compreenda que os vários “agoras” foram perdidos e que não voltam mais. Cansei-me de o alertar. Agora, deixo-o solto. Que vá, que se esfacele.
Estou ausente. Ausente de mim. A mente está parada. Nada me é suficiente, nada.
À medida que o tempo irrompe pela noite dentro, sinto-me ainda mais ensurdecida pelo silêncio do vazio, no meu peito.
Como me sinto? Nem eu sei, ou melhor, sei. Sinto-me irremediavelmente sufocada, desencantada, cansada, desiludida.

As palavras, as minhas palavras, hoje, agora, são de facto sangue vivo, no entanto não suplantam o meu pranto, hoje são sem nexo, sem noção e sem perdão... Que importa os meus gritos? Que importa os meus lamentos? E, agora, neste meu suplicar, quero acabar com a minha intolerância, indagações, alucinações. Mas não me contento e com isso continuo a gritar.

A janela está fechada... Encosto os meus dedos à janela, para apenas poder tocar, ou simplesmente imaginar que ali entre os meus dedos posso desfrutar dos meus segredos...
Encosto os olhos à janela... para desejar, sonhar que posso tocar, ver,... e... encosto as lágrimas à janela, para poder sentir, para poder lembrar que hoje, agora, estou a chorar!