segunda-feira, 15 de setembro de 2008

"agoras"

Anoiteceu. Mais um dia e, mais uma vez, anoiteceu. A escuridão preencheu o vazio do quarto. Silêncio. Silêncio comprido. Aquela coisa comprida, irremediável. O silêncio do agora é tarde. Do agora é nunca. Do nunca que é nunca mais.
Não sei porquê, mas hoje o meu coração insiste em estar algures, bem longe de mim. Vagueia por aí, solto das amarras da minha consciência, da minha razão.
Por mais que me esforce, por mais que tente, por mais que queira, é muito mais forte que eu. Deixo-o ir. Quem sabe, um dia, compreenda que os vários “agoras” foram perdidos e que não voltam mais. Cansei-me de o alertar. Agora, deixo-o solto. Que vá, que se esfacele.
Estou ausente. Ausente de mim. A mente está parada. Nada me é suficiente, nada.
À medida que o tempo irrompe pela noite dentro, sinto-me ainda mais ensurdecida pelo silêncio do vazio, no meu peito.
Como me sinto? Nem eu sei, ou melhor, sei. Sinto-me irremediavelmente sufocada, desencantada, cansada, desiludida.

As palavras, as minhas palavras, hoje, agora, são de facto sangue vivo, no entanto não suplantam o meu pranto, hoje são sem nexo, sem noção e sem perdão... Que importa os meus gritos? Que importa os meus lamentos? E, agora, neste meu suplicar, quero acabar com a minha intolerância, indagações, alucinações. Mas não me contento e com isso continuo a gritar.

A janela está fechada... Encosto os meus dedos à janela, para apenas poder tocar, ou simplesmente imaginar que ali entre os meus dedos posso desfrutar dos meus segredos...
Encosto os olhos à janela... para desejar, sonhar que posso tocar, ver,... e... encosto as lágrimas à janela, para poder sentir, para poder lembrar que hoje, agora, estou a chorar!

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