sábado, 17 de janeiro de 2009

Correr... preciso correr...

Necessito correr. Correr em direcções sem sentido. Correr rápido. Correr com a brisa a romper-me a cara, com o Sol a secar-me as lágrimas. Preciso correr. Perseguir a minha liberdade e nunca alcançá-la para não cessar de correr. Correr com os olhos vendados, com a mente em branco. Correr por correr. Sem nenhum objectivo, sem metas, sem tropeções que arrebatem sonhos. Cansar-me de correr. Deixar-me cair quando já não tenha forças, recuperá-las e novamente correr. Não parar. Correr, olhar para os lados, para trás e nada mais querer ver que não seja o rasto que vou deixando à minha passagem. Com mais coragem correrei sem ninguém que me queira perseguir ou que me queira esperar. Correr. Fugir de mim ou talvez, quem sabe, ir ao meu encontro. Chocar de frente com a outra parte de mim que quero esquecer, que não quero encontrar. Arrebatar dela a alma e o coração, intrínsecos sentimentos, sugar-lhe o veneno que corre nas suas veias e que a consome a cada dia mais. Eu só quero sossego! Mesmo que isso signifique isolar-me. Correr sozinha. Não entendo este sentimento que me assola, me possui e me agonia devagar. Não entendo e talvez nem queira entender. Simplesmente fecho-me de fora para dentro e de dentro para fora; calo a minha voz, fico muda, distancio-me, fecho os olhos, respiro fundo e, às vezes, durmo. Ou, então, corro. Corro com o silêncio dos meus gritos dentro de mim e pairo na imensidão deste vazio...
Só me resta correr...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

gestos e palavras

Gestos e palavras complementam-se, ou não fossem duas formas de comunicação.
O que seria de palavras sem os gestos para as reforçar ou o que seria dum gesto sem palavras para o definir e consolidar?
Já duvidei da palavra, chegando a crer que unicamente a palavra poderia ter duplo entendimento, mas à vida coube talvez o desprazer, talvez a sensatez de me ensinar que também os gestos são questionáveis.
Portanto, hoje, não dissocio a palavra do gesto, nem o gesto da palavra. Somente ambos e, em consonância, perfazem o tudo ou... o nada.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

- como a outra gente, afinal!

Tenho trinta e poucos anos, e não creio em coisa alguma; olho em volta de mim e não vejo nada que me atraia, nada que me encante, nada para que viva. Sinto, verdadeiramente sinto, que me barraram todo o corpo com uma camada de gesso muito espessa que me prende os movimentos, me aniquila os músculos.
Para a doença física em que a vida se me tornou, só existe um remédio: o aniquilamento. No entanto, nunca terei a força de vontade necessária para absorver esse temível elixir. Os meus amigos podem estar perfeitamente descansados. Apesar de tudo, continuarei vivendo; apesar de nada me distrair, não deixarei de frequentar os teatros; apesar de não crer em coisa alguma, irei rabiscando, alinhando palavras, escrevendo silêncios, sempre mais e mais, na conquista vã duma quimera… Gritando sem cessar a minha desgraça, amaldiçoando a existência, irei gozando do que nela houver de bom - como a outra gente, afinal!