Necessito correr. Correr em direcções sem sentido. Correr rápido. Correr com a brisa a romper-me a cara, com o Sol a secar-me as lágrimas. Preciso correr. Perseguir a minha liberdade e nunca alcançá-la para não cessar de correr. Correr com os olhos vendados, com a mente em branco. Correr por correr. Sem nenhum objectivo, sem metas, sem tropeções que arrebatem sonhos. Cansar-me de correr. Deixar-me cair quando já não tenha forças, recuperá-las e novamente correr. Não parar. Correr, olhar para os lados, para trás e nada mais querer ver que não seja o rasto que vou deixando à minha passagem. Com mais coragem correrei sem ninguém que me queira perseguir ou que me queira esperar. Correr. Fugir de mim ou talvez, quem sabe, ir ao meu encontro. Chocar de frente com a outra parte de mim que quero esquecer, que não quero encontrar. Arrebatar dela a alma e o coração, intrínsecos sentimentos, sugar-lhe o veneno que corre nas suas veias e que a consome a cada dia mais. Eu só quero sossego! Mesmo que isso signifique isolar-me. Correr sozinha. Não entendo este sentimento que me assola, me possui e me agonia devagar. Não entendo e talvez nem queira entender. Simplesmente fecho-me de fora para dentro e de dentro para fora; calo a minha voz, fico muda, distancio-me, fecho os olhos, respiro fundo e, às vezes, durmo. Ou, então, corro. Corro com o silêncio dos meus gritos dentro de mim e pairo na imensidão deste vazio...
Só me resta correr...
Só me resta correr...