sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Tu

Na ânsia de te ter, quis imaginar que conseguiria suportar a tua ausência, viver longe do teu mundo, não te ver, não te tocar, não te cheirar, que saberia viver este sentimento enclausurado dentro do meu peito… loucamente me engano, nunca serás meu… nem saberei viver sem ti a meu lado.
Sinto tanta saudade que não consigo ver o final desta eterna ansiedade porque sem o teu amor não conseguirei suportar este inferno no meu interior que me consome sem piedade.
Fizeste-me prisioneira do nosso tempo, dos nossos momentos, dos nossos beijos que não quero esquecer. Hoje vivo das e nas sombras do passado.
Felizmente tenho em cada sonho a tua visita, meu amor.
Tu que caminhas de pés descalços no lusco-fusco do meu quarto, tu, que acendes a noite com a tua terna voz, tu, que te deitas na minha cama e me abraças e me beijas e me acaricias os cabelos, tu, que nos meus sonhos me fazes tua, só tua... e te faço meu, só meu...
Tu, meu amor, pareces ser a única constante desta minha peregrinação, a tua alma a minha amarra e a razão de tudo o teu olhar.
E, da saudade do teu olhar, foi concebido este amor...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O momento

Curiosamente consigo precisar o momento em que te tornei eterno para mim. Soube que estava apaixonada quando me descobri a sorrir enquanto te observava a dormir.
Naquela noite não te esperava. Naquela, não poderias vir. Aninhei-me no sofá e relembrava a noite passada, as poucas horas que havíamos estado juntos.
A campainha ressoou... quem seria? Atendi. Quem é?... Preciso de ti... - disseste. Quando abri a porta, abraçaste-me como se há muito não me tivesses em teus braços... Preciso de ti... - repetiste. Não falámos. Aconcheguei-te no meu colo, acarinhei-te, embalei-te e adormecemos como tantas outras vezes, abraçados, naquela cama. Naquela noite não fizemos amor. Acordei com o ruído do vento na janela. Serenei e tentei voltar ao sono que tinha deixado a meio. Senti-me bem junto a ti, o teu corpo quente... o calor do teu corpo acalmava-me mas o teu cheiro tinha o efeito oposto. Desprendi-me do teu abraço e fiquei a olhar-te, contente por te ter ali... tão meu. Não tive coragem para te acordar e fiquei assim até a manhã surgir. Aquela fora a primeira noite em que nos permiti acordares junto a mim...

sábado, 4 de outubro de 2008

Ambos quisemos...

Ainda te viraste na ânsia de que eu te chamasse, que fizesse um movimento por mais pequeno que fosse que te fizesse voltar atrás. Percebi no teu rosto o quanto te custou descer aqueles degraus. Aqueles, que te levavam à tua nova vida. Enrolei-me nos meus braços. Nada mais havia a fazer ou a dizer. Afinal, era uma decisão tomada pelos dois. Nenhum de nós quis mais do que o outro. Ambos quisemos. Ambos decidimos. Ainda que não fosse o desejo de cada um mas, era a razão que ditava a nossa vontade.
Deixei-te ir. Sem uma palavra. Muitas fervilhavam dentro de mim. Queria dizer-te que não fosses. Que se calhar nos tínhamos enganado. Que provavelmente nos precipitávamos. Queria agarrar-te, não te deixar partir. Mas não, não o podia fazer.
Eu sei, sei que não vais tentar apagar-me da tua vida porque durante muito tempo no teu coração, nós vamos viver. Aqueles detalhes, tão pequenos e insignificantes de nós dois vão persistir, resistir, porque são coisas muito grandes para esquecer.
Sei que nos amamos. Que sempre nos vamos amar. Sei o quanto nos amámos, em silêncio e à distância. Não sei como acabará a nossa história. Sei que nos destruímos e que nos defendemos, unicamente, de nós mesmos. Sei que é o silêncio que nos resta, o que nos une, uma finíssima película de tempo suspenso, para além da qual não há nada mais do que a escuridão dos abismos. E, por isso, nenhum de nós ousa qualquer palavra, qualquer gesto, qualquer coisa que possa romper esse ténue fio que nos prende à eternidade.
É, talvez, uma história triste e sem fim feliz à vista. Ou talvez não.
Sei hoje e, ao ver-te partir também o senti, que nunca devemos amar em silêncio. Nada é mais perigoso do que dividir com outrem os pensamentos vividos em silêncio.
Tenho receio. Receio de não me vir a recuperar da tua ausência física. Mas guardo os nossos silêncios e reconstruo-os. E em cada silêncio da minha nova vida, estarás comigo e falarei contigo – como fazia dantes, deitada ao teu lado, falando em silêncio, numa nudez absoluta, sem segredos nem medos. Porque nada é mais íntimo e mais indestrutível do que o silêncio partilhado. O silêncio fica porque nunca mente, porque é tão íntimo que não pode ser representado, é tão envolvente que não pode ser rasgado.