quinta-feira, 6 de novembro de 2008

(rascunho)

encolhes os ombros em movimentos tresloucados, como se ao fazê-lo questionasses o mundo e dele não obtivesses resposta. alheaste-te da orbe. deambulas, arrastando-te pelos escombros da vida. da tua vida. sorris de vez em quando. nem sabes do quê. também não é importante.
prendes os olhos nas esquinas do tempo. no tempo em que foste feliz, ou pensas que foste. no tempo em que as ausências do presente eram preenchidas pela presença da matéria e dos sentimentos.
o teu corpo dói. agonizas. cospes o ácido da cólera que te consome as entranhas. podias ter agarrado as rédeas da vida com as duas mãos, mas não. não o fizeste. doem-te do esforço. calejaste-as com o sofrimento das infrutíferas tentativas. não foi, ainda assim, o suficiente. constatas, hoje, na solidão dos teus dias.
dobras-te sobre ti mesmo. aninhas-te em ti. o peso das memórias, que queres apagar, agarra-te ao chão e não te deixa avançar. pedes clemência ao deus que outros te disseram ser o alívio das causas perdidas. não te ouve. tens os olhos a puxarem-te para o chão. não te reconhece. nem te reconheces.
um dia, um dia soubeste ser feliz. quando as tuas mãos ainda eram aquecidas.
podias ter sido tudo o que quisesses. tinhas tudo, mas não. deixaste-te ausentar de ti.

1 comentário:

  1. Querida Serena
    Não sei quem és. Mas reparo no blogger que és minha seguidora. Nem sabia que existia isso. Leio-te. Leio-me. Entendo. E apareces quando eu ia escrever sobre o segredo...
    Um beijo
    Daniel

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