sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Suicidas, como os respeito!

Quer dizer: não consideras o suicídio uma covardia?
Mas de forma alguma! Acho até que um suicida é uma criatura de enorme coragem. Sei que um suicida é um desertor: a existência tornara-se-lhe impossível; ele fugiu-lhe. Perfeitamente. No entanto, para fugir, teve que praticar um acto muito mais violento - logo, muito mais corajoso - do que praticaria se continuasse a viver. Se continuasse vivo, conformava-se no fim de contas com a lei comum. - “A vida é um sofrimento eterno” - sujeitava-se. Mas ele não se sujeitou, morreu às suas próprias mãos - isto é: revoltou-se. Ora, a “revolta” foi sempre sinónimo de audácia, de coragem de energia.
Os suicidas! Ah! Com que entusiasmo os admiro, como os respeito! Eles realizaram aquilo que quiseram. Eis a sua grande superioridade. Valem bem mais do que eu, que tenho tanto desejo e nunca serei capaz de despejar um revólver sobre o meu crânio. Quem vive bocejante, lazeirenta como eu vivo, e continua a viver, não é só covarde - é um miserável.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

E como morremos já...

Semilouca, com a razão obscurecida pelo menos, ela assistiu impassível à agonia suave dele e, vestida de preto - na sala às escuras - recebeu os amigos que solícitos lhe vinham dar os pêsames. A eterna comédia humana… Só quando o pesado caixão subiu para a berlinda negra, só quando a longa fila de carros se pôs em marcha, é que ela acordou do pesadelo, e viu, conscientemente viu, toda a sua desgraça. Pela primeira vez chorou; chorou não por ele, mas pela ruína total e sem remédio da sua vida inteira. Porque era assim: a partir daquele momento toda a sua vida desabara convertida num montão de escombros. Debaixo dos destroços, ela jazia sepultada - morrera também. Por isso não pensou no suicídio: Existem angústias tão desoladoras, tão infinitamente cruéis, que nós temos a sensação nítida - mas é verdade, temos a sensação nítida - de que passámos já para além da morte. Em muitos dias de vida, por coisas de bem menor importância, por mil complicações enervantes e mesquinhas, lembrámo-nos de desertar. Porém, em face duma catástrofe horrível, de tal modo horrível que nunca admitimos a hipótese de a vermos consumada, não pensamos nem por um segundo nessa libertação. Não pensamos porque a nossa dor foi tamanha que mesmo na morte não acharíamos refúgio para ela - a nossa dor foi tamanha que realmente morremos já. E como morremos já, não importa que continuemos vivos. Demais, ao peso dessa angústia, toda a nossa vontade ficou abolida. Ora, digam o que disserem, ainda é imprescindível uma grande força de vontade para desfecharmos uma pistola sobre nós próprios, para nos precipitarmos duma ponte, para emborcarmos um frasco de veneno…

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Grande parte de mim é... música...

Escolher um artista como revelador e qualificador dos meus gostos musicais é árdua tarefa, quase impossível de concretizar. No entanto porque só é “quase”, porque nada é [afinal] impossível e porque se trata de música, seleccionei da abrangente e vasta paleta de criadores que perfazem o meu mundo musical, uma intérprete que me acompanhou num dado período da minha existência e que me proporciona, sempre que a ouço no presente, um retrocesso emocional ao passado muito intenso.
Desta forma respondo à pretensão do Art que me lançou este desafio com as seguintes regras:


I. colocar uma foto individual nossa
II. escolher uma banda/artista
III. responder às questões somente com títulos de canções da banda/artista escolhido
IV. escolher 4 pessoas que respondam ao desafio, sem esquecer de avisá-los


I. Foto:









II. A banda escolhida: Alanis Morissette

III. As respostas:
3.1 - És homem ou mulher?: I'm a bitch, I'm a Lover
3.2 - Descreve-te: Everything
3.3 - O que as pessoas acham de ti?: Uninvited
3.4 - Como descreves o teu último relacionamento: Hands Clean
3.5 - Descreve o estado da tua relação actual: Big Bad Love
3.6 - Onde querias estar agora?: London
3.7 - O que pensas a respeito do amor?: Head Over Feet
3.8 - Como é a tua vida?: An Emotion Away
3.9 - O que pedirias se pudesses ter só um desejo?: That I Would Be Good
3.10 - Escreve uma frase sábia: (Change is) Never a Waste of Time

IV. Escolher 4 pessoas:
...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Criaturinha desprezível

Tiveste um tempo. Um tempo que te pertenceu. Um tempo para te fazeres feliz e quem sabe, também, fazer-me feliz.
Jogaste com o tempo como se o pudesses vencer, como se dele fosses dono e senhor. A verdade é que o esgotaste. Venceu-te. Nada fizeste. Limitaste-te a percorrer os labirintos do esgoto da tua vida qual rato sarnento em busca do nada. E levaste-me. Roubaste-me o tempo. O meu tempo. Aquele que era meu. Só meu. Aliciaste-me com a luz ao fundo do túnel. Com uma mão quente, branca e imaculada e o sabor a felicidade que me oferecias com a ludibriada alvura do teu corpo. A tua alma, essa não a poderias oferecer porque simplesmente já não a possuías.

Sou uma menina colérica, talvez. Mas, não sou imbecil. Consumi as ínfimas forças que me restavam e dolorosamente emergi dos excrementos em que me depositaste.

Não sei para onde irei daqui. Sento-me no parapeito desta janela e deixo que o peso das minhas pernas decidam o voo que me levará à presumível libertação.
Quando me inclino para a frente acaricia-me os lábios o ácido que me corrói as entranhas, os pulmões deixam de respirar e do estômago jorra a podridão que não me deixa esquecer que, um dia, eu estive lá...

Quando morrer talvez consiga escapar. Talvez arranje uma família, talvez reconquiste os meus amigos. Talvez.

Estou cansada de fugir de tudo, de correr na ilusão de ainda me ser possível alcançar a superfície e flutuar ...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Força

Já alguma vez experimentaram pôr os braços à vossa volta para imaginar que alguém os está a abraçar? Já imaginaram poder falar com eles e pegar-lhes nas mãos? Já sentiram que eram feios e inúteis e tentaram descobrir os vossos defeitos, olhando para o espelho durante dias a fio? Já se riram disso? Sentiram-se estranhos e estrangeiros? Foram postos de parte e fodidos, queimados e violados dentro das vossas cabeças? Não conseguiram perceber o que eles queriam. Alguma vez esconderam a vossa sensibilidade, os vossos sentimentos verdadeiros, porque receavam ser espezinhados? Bom, eu já fiz. Eu fiz e passei por isso. Ainda estou a passar. Faço companhia a mim própria e tento imaginar alguém a amar o meu corpo e alma torturados. Tenho de ser forte para o fazer. Tenho de cerrar os punhos e os dentes, fingir ser pura e fazer o que devo, apesar das consequências. Apesar da dor e do fogo que me arde no peito, preciso de controlar os sentimentos e lidar com a situação. Nada de comida, de gargalhadas, de aplausos, apenas sobrevivência. Tenho de descobrir o meu último vício e levá-lo para a última página, para poder partir...