quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Querer intemporal

Queremo-nos, eu sei e tu sabes! Desejamo-nos, eu sinto e tu sentes!
Mas, e por que sinto eu esta certeza, quando a razão me poderia levar a crer no contrário a este sentir?
Sei que quando não estamos juntos o nosso pensamento corre célere ao encalço do outro... quando se aproxima o nosso encontro em nada mais conseguimos pensar e quando por fim os nossos olhos têm a alegria do reencontro, as nossas mãos se tocam e sentimos o cheiro, aquele cheiro que o fizemos e é já tão nosso e que jamais esqueceremos, nada mais existe para nós... por ápices o tempo pára e naqueles breves instantes em que existimos unicamente um para o outro, naqueles momentos em que nos permitimos a liberdade de sermos o que desejamos, conseguimos uma ligação tão assustadoramente forte, uma sintonia tão inexplicável de sentires e desejos exacerbados de nos diluirmos de corpo e alma, que nos faz acreditar que juntos ou separados, seremos sempre “um”...
Ainda que os nossos corpos existam em espaços distintos e distantes, que as nossas vidas corram paralelas, as nossas almas estão e estarão ligadas para todo o sempre, um sempre intemporal, um sempre só nosso, um sempre que será sempre enquanto em nós subsistir este inegável mútuo querer...

sábado, 15 de dezembro de 2007

Fragmento III

trocámos lágrimas e paixão
como foi que te perdi?
um momento de ilusão
fiquei longe de ti
...
longe de ti
já não posso viver assim
o vazio que há em mim
sinto que estou perto, do fim
...
a tristeza no olhar
a dor dentro de mim
a vontade de chorar
ninguém sofre assim...

Império dos Sentados

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Eterno

Continuo a falar de ti. Continuo a falar para ti mesmo sabendo-te longe de mim, do nosso mundo. Tentar não pensar, afastar o pensamento seria conformar-me e fazer-te no passado. E isso não é possível já que continuas presente nos meus dias, nos meus momentos de alegria, nos meus rasgos de nostalgia...
Há coisas que não se esquecem e há coisas que não nos deixam esquecer... não nos deixam ou, não queremos esquecer!... e tu deixaste-me o eterno e a eternidade para te poder recordar e fazer reviver. E eu não quero esquecer.
Cada trecho de ti está gravado em mim e é curioso como às vezes posso lembrá-lo em pequenos detalhes, muito tempo depois. Um momento julgado apagado renasce pelos passos imaginários de um caminho que um dia existiu.
As lembranças, algumas vezes enternecem-me, outras vezes arrasam-me. E há também ocasiões em que elas me despertam um sorriso interior há muito esquecido. De certa forma elas cumprem o papel de me lembrar que não desperdicei por inteiro a minha vida. Chegam a recuperar algo que, por vezes, chego a pensar que nem foi meu.
Mas foi.
Foste meu. Fui tua. Fomos momentos. Fomos uma pequena mas, grande vida...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Fragmento II

quem me dera poder conhecer
esse silêncio que trazes em ti,
quem me dera poder encontrar
o silêncio que fazes por mim.
...
somos dois estranhos
perdidos na paz,
em busca de silêncio
sozinhos demais,
somos dois momentos,
dois ventos cansados,
em busca da memória
de tempos passados.
...
silêncio é este espaço que há em mim,
onde me escondo para chorar e ser chorado...

Pedro Abrunhosa

domingo, 9 de dezembro de 2007

O Segredo

Tenho um segredo. Todos temos um segredo. Guardo-o comigo. Ou não seria segredo. No entanto, deixo-o solto, à vista. Talvez para que possa ser achado.
Não há melhor lugar para guardar aquilo que queremos esconder. O ser humano não vê o evidente, o visível. Dificulta, complica o que é elementar, o, até, inequívoco. Tudo quanto é simples e acessível é sujeito a ser questionado quanto à sua veracidade.

Vivemos um segredo. Um segredo de amor. Um segredo partilhado, quis eu crer. Concluí ser, afinal, o teu segredo e o meu segredo. O teu traduziu-se na fraqueza, o meu ficou por ser revelado. Ainda assim se mantém.

Deixei o meu segredo, esse que ainda guardo, bem latente em todas as relações que mantive ao longo da minha vida... mas só tu chegaste à porta que o poderia revelar. De facto, conseguiste perceber todos os indícios que te ofereci para poderes chegar até ele.
Respeito e aceito que tenhas optado por não transpor a porta. A verdade é que é difícil optar pelo desconhecido ainda que tudo indique que é lá que está a nossa hipotética felicidade!...

O segredo continua comigo. Só comigo. Talvez, um dia, no dia em que deixar a minha existência terrena, eu o revele. Ou talvez não. Talvez o leve no meu silêncio...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Fragmento I

há dias em que tudo me dói.
doem-me as mãos...
esfomeadas de dias, dói-me o olhar,
que se fecha diante da noite,
dói-me tudo, sem fim.
...
dói-me o amor e dói-me a vida
...
e dói-me tudo, em certos dias,
que de tanto doer não parecem dias.

Maria João Cantinho

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Silêncios da minha alma

Procuro-me no avesso de mim. Há muito o turbilhão de sons duma sociedade empobrecida e desprovida de valores, abalroaram os meus sentidos. A disparidade de crenças e vivências ergueram uma imponente divisão entre o meu mundo e este mundo perdido. Sobrevivo na penumbra… no silêncio do ruído destes alienados e insanos. Julgo sufocar. Agarro-me ao chão. Cravo nele as unhas num esforço sobre-humano, numa ânsia desmedida de sorver um pouco de vida. Respirar tornou-se um suplício diário. O ar está poluído pelo cinismo, a falsidade, a mentira… Custa-me viver assim!
Ah, como clamava, no meu peito, no silêncio dos meus dias, esta voz!... num ápice desfaço a minha nostalgia. Há vezes em que me escuto. Desconheço, até, a minha voz... Às vezes soltam-se sons estridentes que gritam, que suplicam pela libertação... outras vezes, vozes indefesas que em surdina lacrimejam ácidos de lamentos sufocados!
Não vislumbro uma saída. Os caminhos que trilho convergem sistematicamente a um mesmo ponto, o ponto de partida!...
Relego pormenores, aqueles que me afastaram do meu propósito e empeço nova caminhada... em silêncio!... esse, meu eterno companheiro... fez-se meu no dia em que a esperança desfaleceu.
Ninguém segue viagem sozinho... todos temos um companheiro de viagem... eu também tenho!...
São noites e dias, escolhas e desejos, encantos e emoções, sonhos e visões, pensamentos e vozes... murmúrios que o silêncio me permite... são “Silêncios da minha alma”!...